quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Memórias - Continuação

Passados uns meses voltámos lá, já apresentava grandes melhoras, não conseguia falar correctamente pois parte da língua também ficou afectada e ela estava a ter aulas no próprio hospital para voltar aprender a falar. Lembrava-se de nós mas como os colegas do secundário e não como os colegas da faculdade. Naquela altura eu conheci uma outra Raquel. Já não era a mesma que tínhamos conhecido. Uma rapariga cheia de vida, muito alegre e simpática. Foi substituída por outra pessoa, com outras lembranças que não aquelas que tinha vivido connosco. Logo era diferente, era ainda aquela menina do 10º ano. Passados novamente uns tantos meses soube que ela tinha passado para o Hospital de Alcoitão para ser seguida diariamente e fazer testes para poder voltar pelo menos a ter maior mobilidade e voltar a “lembrar-se” dos anos de escolaridade para que a parte do cérebro que tinha sido afectada conseguisse voltar a “funcionar” normalmente. Fui então visitá-la a casa. Felizmente a Raquel teve um apoio da mãe incondicional, pois esta vivia em Macau com o marido e onde viveu a Raquel até completar o 12ºano. Esta logo que soube do acidente veio logo para Portugal e acabou com o tempo por deixar o próprio trabalho para poder tomar conta da Raquel.
Condições não faltaram o que com o passar do tempo veio a demonstrar que a Raquel melhorava cada vez mais e que tinha força para lutar, para conseguir voltar a ser como era. Já conseguia falar melhor e andar apoiada. Soube que ia ser submetida a uma operação ao pé para que este deixasse de estar atrofiado, iria ajudar a Raquel a fazer a fisioterapia melhor para que conseguisse futuramente andar sozinha. Como já estávamos no fim da primavera a mãe da Raquel convidou-me e também a outros colegas da turma para irmos aos anos da Raquel no dia 31. E assim foi, voltei lá para lhe dar os parabéns. Com isto tudo passou um ano, já estava no segundo ano da faculdade enquanto a Raquel ainda estava a lutar para se conseguir mover sozinha, algo que nós já tinha-mos de nascença e de repente lhe foi retirado. Nesta altura a Raquel já tinha perfeita noção de que estava assim por ter sido atropelada. Já dizia que também queria ir para tribunal mostrar ao homem que a atropelou em que estado a deixou. A mãe ainda que revoltada não queria que a filha fosse assistir em tribunal o desenrolar dos acontecimentos. Pois não queria que ela se fixa-se na amargura e tristeza que era tão demonstrada em tribunal.

1 comentário: